Meu maior aprendizado com a educação foi entender que ela apenas ganha sentido quando a vivemos na nossa vida cotidiana. Quando a enxergamos em cada pequena oportunidade que aparece, no contato com o outro – seja lá qual seja a sua idade – e no contato consigo mesmo.
Fim de semana passado eu me sentia carente de atenção, e passei dois dias de cegueira achando que essa dívida era do meu marido comigo. Mas neste fim de semana eu escolhi divergir. Escolhi dedicar meu tempo a mim, fazendo algo que eu amo, preciso e ainda assim quase nunca faço com a devida dedicação: cuidar das minhas amigas plantas. E para isso usei todo o tempo necessário... não para as plantas ficarem frondosas, mas para eu me sentir comigo. Senti a minha alegria e solidão, a minha dança, a minha
música, os meus gestos, o meu jeito atrapalhado e o meu jeito sereno, o meu jeito mimado e a minha superação, meu olfato aguçado, a minha visão curiosa, o ajuste do meu toque, o chão gelado que me sustenta, meu ouvido ouvindo o ruído dos carros, minhas bochechas amornadas pelo olhar do meu marido por mim.
No dia seguinte, fiz uma torta com meus dois sobrinhos de quatro anos: prende os cachinhos, lava as mãos, estica a manga, fala baixinho, esquece, gargalha, tenta de novo, ouve bem o ovo quebrando, separa a gema, faz meleca, limpa, espalha massa, com carinho, limpa a bancada, sem lamber os dedos!, resiste, limpa a mão, mistura o creme, meleca os dedos, resiste!, resiste!, lava!, lava!, corta banana, meio torta, corta de novo, a colher é torta!, fecha a torta pro forno, enfim!
Cheirinho no forno, torta pronta, família com a boca aguada... Verdade dita? Os dois, nem tchum! A atenção agora era com o lápis e o papel. Mas quando o pai perguntou, a glória: “E eu não lambi os dedos!!”. A graça mesmo ficou no processo, alimentada pela força de vontade. E a minha verdade? A torta ficou boa, mas doce mesmo foi a ternura daquele tentar de seis mãos ocupadas demais em sentir o presente, em absorver todas as texturas, sons, instrumentos e novidades acontecendo para temer o erro (ou o resultado).
Nesses dois dias eu havia me lembrado, e pratiquei: não há nada mais acolhedor do que atenção pura, verdadeira, livre de segundas intenções e desapegada de resultados. Meu jardim ficou lindo, sim! Mas o que me preencheu mesmo não tem forma de planta, nem torta... é uma impressão maior, uma sensação do processo que não tem forma, tem sentimento.
Texto escrito por: N.S, educadora de Confeitaria - Centros Etievan.
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